Cena 1
Tudo começa na terapia de yoga, Ana está sentada de olhos fechados, porém sua boca repete sem voz a frase "sente e espere", ela coça o dedo maior usando o polegar repetidas vezes.
Memória se aproxima tocando o ombro de Ana e sussurrado ineludivelmente em seu ouvido. Ana responde ao toque com uma expressão desconfortável.
Psicóloga: - Inspirem pelo nariz, conte até três e solte pela boca.
Ela obedece a orientação da médica que nota os sussurros de Anna, assim como seus dedos inquietos. A psicóloga se abaixa segurando a mão da garota, que abre os olhos e para de murmurar instantaneamente.
Psicóloga: - Não vai funcionar se você não tentar relaxar. Vamos tentar assim.
A psicóloga leva a mão direita de Ana ao seu ombro esquerdo, respectivamente leva a mão esquerda ao ombro direito. - Agora feche os olhos novamente, bata levemente as mãos nos ombros, até conseguir se acalmar.
A médica não consegue nada além de uma simples acenar de cabeça. Com isso, Memória sai de cena e Ana começa a relaxar.
Ana: - Não para, ainda está aqui.
Psicóloga: - E você quer parar de pensar nisso?
Ana apenas faz que sim com a cabeça repetidamente.
Psicóloga: - Não precisa lutar contra, isso só vai piorar, já conversamos sobre isso. Quer olhar se a janela está trancada?
Novamente a garota repete o movimento de cabeça, mas não se levanta.
Psicóloga: - Mas você sabe que está fechada, não sabe? Você a fechou quando entrou no consultório, lembra disso?
Ana: - Sim. Eu lembro.
A garota se acalma aos poucos ainda olhando para a janela.
Psicóloga: - Por que a janela tem que estar fechada?
Ana: - Porque a do sonho não está aberta, está sempre trancada.
Psicóloga: - E onde você está no sonho?
Ana: - Sentada no batente de frente para a porta, a janela está à direita.
Memória aproxima-se novamente sentando ao lado de Ana.
Psicóloga: - E o que vem depois disso no sonho?
A boca de Ana está aberta, mas é a voz de memória que ecoa.
Memória: - Tudo se torna fogo.
(Todos saem de cena e o primeiro flashback entra.)
(Cena 2)
Ana está sentada em uma mesa com memória atrás dela, em sua frente está sua mãe, ambas parecem felizes, mas memória é a única que olha para a plateia.
Mãe: - Eu estava procurando um texto de Clarice Lispector que se encaixasse no contesto da próxima aula, mas, ao invés disso, encontrei uma resposta dela que não consigo deixar de pensar. Alguém havia perguntado "Qual a mais forte das coisas?", mas a resposta não me faz sentido. “O instinto de ser." O que você acha que ela quis dizer?
Ana: - Não tenho ideia, talvez seja a personalidade dela?
A cena para, mãe sai de cena deixando Ana sozinha com um livro em mãos, então memória narra para o público.
Memória: - Não faço ideia do que tanto me cativou nessa resposta, talvez porque eu não tenha uma resposta clara ou entendimento total da visão de Clarice. No momento que minha mãe me contou isso eu não me importei com a resposta, mas agora não há nada em que pensar, então me pego presa nesse questionamento sem ir a lugar algum tentando sair dessa pequena crise existencial. Na verdade, minto, não quero sair, me recuso a sair daqui sem uma resposta própria e completa, mesmo sabendo que não me faz bem. Toda essa questão me fez pensar no "ser" em si, como chegamos a "ser"? Não posso "ser" pois ainda não sei quem sou, e provavelmente nunca vou saber, talvez o instinto de ser seja a vontade incessante de poder se dizer algo, ser algo além de si próprio. Com certeza é a mais forte das coisas, pois nunca passa, pois nunca teremos a resposta concreta para a pergunta "quem você é?", pois somos complexos ou humildes demais para responder resumidamente. Mas e se não for?
Alucinação: - E assim eu deixei a pergunta sufocar o pouco de paz que a lembrança me trazia, me perdi em mim sem conseguir voltar, tentar não pensar apenas me afundava mais, como se eu estivesse em um oceano negro e sufocante, podia jurar que meus pensamentos iriam me afogar.
Alucinação: respira fundo buscando ar desesperadamente. Seguido de um sorriso sádico
Alucinação: - Mas eles ainda me querem viva.
O flashback acaba e a sala volta ao normal, a psicóloga acompanha Ana até a saída, e ao seu lado entra em cena uma enfermeira.
Psicóloga: - Enfermeira Elane, por favor me acompanhe até a sala de visitas. Ana, posso confiar em você para ir sozinha para o quarto?
Ana: - Pode sim, doutora Torres.
Ana sai de cena.
Enfermeira: - A senhora Soares chegou há poucos minutos, as notícias são boas?
Ambas começam a andar devagar em direção à sala de visitas.
Psicóloga: - Ana está aqui a dois anos, o caso dela é diferente, no mínimo. Infelizmente as notícias que irei levar para a mãe dela estão mais para um tiro de misericórdia.
Enfermeira: O que está querendo dizer doutora?
Psicóloga: - Estou dizendo que o único motivo de Ana não melhorar é que de algum jeito, ela se convenceu que não quer isso.
(A psicóloga apressa o paço, deixando a enfermeira levemente assustada com sua revelação.)
A mãe entra em cena, ela parece sempre inquieta ou preocupada.
Mãe: - Vim assim que recebi a ligação, adiantaram a visita, está tudo bem com a Ana?
Psicóloga: - Senhora Souza, creio que teremos muito a conversar. Por favor, sente-se.
(Psicóloga indica a cadeira para Sra. Souza, que assim faz.)
Mãe: - Não me diga que ela tentou fugir novamente?
Enfermeira: - Ana passou da fase de resistência senhora, mas algo a mais tem nos preocupado.
Psicóloga: - É verdade, mas precisamos ir por partes. Senhora Souza, pode contar novamente o que aconteceu no acidente do dia 2 de outubro?
(Mãe demonstra surpresa)
Mãe: - Eu já falei sobre isso, porque não levam em conta meu testemunho anterior?
Psicóloga: - Eu gostaria que fosse assim senhora, mas aparentemente o caso de Ana é mais complexo do que pensamos, e há algo no dia do acidente que provavelmente deixamos passar.
Enfermeira: - O estado dela está se agravando, mesmo após 1 ano de tratamento aqui na clínica, não é como se ela estivesse apenas resistindo ao tratamento, mas repelindo cada melhora que ele traz.
Mãe: - Ainda assim não vejo como meu testemunho pode ajudar.
Psicóloga: - Senhora Souza, sua filha revive cada semana como a mesma semana desde o acidente há 1 ano, todas as terças-feiras ela tem ataques de pânico, todas as quartas passa o dia se recusando a sair da cama, todas as quintas ela pega o mesmo livro na biblioteca e lê o mesmo capítulo, todas as sextas ela confere todas as janelas da clínica para ver se estão fechadas, no sábado e domingo ela ri, interage com todos aqui de forma bondosa e sem resistência alguma, mas toda segunda ela para de frente para a porta contando cada segundo até amanhecer terça novamente. Entretanto, chegou um momento que ela começou a esquecer ou até mesmo confundir os rituais semanais dela. Meu maior erro como médica dela foi não a expor ao seu trauma o mais cedo possível, no intuito de fazê-la superar esse dia, mas mesmo agora tentando fazer isso é inútil, ela repele e resiste a cada investida.
Enfermeira: - O que nos faz acreditar que ela precisa ser exposta ao trauma novamente, para quem sabe dar continuidade no tratamento, antes que ela chegue a um estado grave de apatia.
(Mãe aperta as mãos demonstrando tristeza e relutância, mas não demora mais que segundos para respirar fundo e assentir com a cabeça)
Mãe: - Eu farei o que precisar, mas antes de contar novamente o dia do acidente, pergunto como pretendem expor Ana ao trauma?
(A psicóloga e a enfermeira se entreolham, então a psicóloga suspira e continua.)
Psicóloga: - Eu darei um passe semanal para Ana, ela passará uma semana com você, de preferência no mesmo local onde aconteceu o acidente, mas não há motivo para se preocupar, se preferir eu envio um enfermeiro ou eu mesma irei junto acompanhar o desenvolvimento dela.
(Mãe assente com a cabeça.)
Mãe:- Assim seja. Como já sabem, Ana foi diagnosticada com TOC desde os 11 anos, uma das compulsões dela eram por segurança, ela vivia lendo manuais de sobrevivência e coisas parecidas. Naquela terça-feira eu estava atrasada, fiquei presa no trânsito após fazer hora extra na escola onde dava aula, mas não consegui avisar isso a Ana. Quando ela percebeu que já havia dado o horário em que eu geralmente chegava em casa, sentou-se de frente para a porta com o relógio da cozinha nas mãos. Ela estava tão concentrada me esperando que não percebeu o vazamento de gás, já estava escurecendo, então ela ligou uma das luzes do hall de entrada, a explosão não foi tão grande, Ana quase saiu ilesa, mas agora a casa estava pegando fogo e ela estava em pânico, apesar de já ter lido milhares de vezes sobre como diminuir um incêndio, ela não consegui se mexer, ficou paralisada olhando para as janelas sem conseguir fechá-las no intuito de abafar com fogo, um vizinho chamou os bombeiros e quando eu cheguei, encontrei uma garota que não parecia ser minha filha.
(Os olhos da senhora estavam marejados e sua voz trêmula quando terminou de falar, mas ainda assim, permanecia de cabeça erguida.)
Mãe: - não tenho ideia de como isso pode ajudar Anabeth, mas faço o que for preciso para ter minha filha de volta.
(Psicóloga: balança a cabeça e respira fundo.) - Bom, acho que já podemos dar continuidade com o tratamento dela. Vou pedir que providenciem os papéis para levá-la para casa.
Mãe: - tudo bem doutora.
(A psicóloga se levanta e abre a porta para a mãe e as duas vão até uma sala assinar os papéis.)
Psicóloga: - assine aqui nessa linha por favor.
(A mãe termina de assinar e apreensiva pega na mão da doutora)
Mãe: - Farei o que for preciso para ver a minha menina bem. (A mãe segue em direção ao quarto de Ana, com passos acelerados, entra no quarto e senta na cama.)
Mãe: - filha, vamos para casa? A doutora Torres falou que seria bom para vc.
(Ana está de cabeça baixa, mas quando sua mãe entra no quarto levanta-a rapidamente, mostra resistência, mas confirma com a cabeça, sem dizer uma palavra.)
Ana: - Onde vamos?
Mãe:- Para casa querida.
(A mãe pega as coisas dela e ambas saem do quarto.)
Quando Ana chega em casa, sai do carro e fica olhando fixamente para a porta da casa
Alucinação chega perto dela e começa a falar em seu ouvido. - Vai começar tudo de novo, como você pode estar tão tranquila? Já começo a sentir... ( A mãe aparece na cena, interrompendo a alucinação, pondo a mão nas costas dela, alucinação sai de cena e Ana volta ao normal)
Mãe: - Filha está tudo bem?
Ana: - Sim, estou bem.
Mãe: - Então vamos entrar?
(A mãe segue na frente, Ana respira fundo e entra já demonstrando inquietação, ela meche os dedos freneticamente.)
Ana: - Podemos fechar as janelas?
Mãe: - Sei que hoje é sexta querida, mas lutar contra seus rituais faz parte do tratamento, você entende, não é? Precisa ser forte, por favor Ana...
Alucinação: - Olhe o que está fazendo! Ela odeia você graças a suas loucuras, você não merece uma mãe como ela, vamos, seja normal, seja normal, normal, normal, normal!
(Ana tapa os ouvidos e encolhe o corpo)
Ana: Eu não consigo ser normal! (Grita a frase)
Mãe: Não querida, não é assim. (Abraça Ana). Você é uma menina machucada, uma menina forte, mas machucada. Lembra quando estava aprendendo a andar de bicicleta e ralava o joelho? Você caia e não chorava, nem uma vez.
Ana: - Lembro.
Alucinação: - Não escute!
Mãe: - Lembra também que eu precisava colocar remédios fazer um curativo? É a mesma coisa agora, preciso que me deixe colocar um pouquinho de remédio, me deixe cuidar de você Ana.
Ana: - E se eu não ficar bem? (Ana cedia aos poucos, olhando nos olhos se sua mãe)
Mãe: - Tudo bem não ser normal querida a vida continua, quando finalmente entender isso, nada mais doerá tanto.
(Ana até abre a boca para falar, mas apenas cala-se e abraça sua mãe por 7 segundos)
Mãe: - Está tudo bem, querida está tudo bem. (Acaricia o cabelo de Ana.) Venha, vamos comer algo, o que vai querer?
Ana: - Podemos pedir pizza? (Sai do abraço)
Mãe: - Claro, podemos.
(Ana e sua mãe saem de cena, em seguida alucinação entra.)
Alucinação: - Algo estranho aconteceu desde que entrei aqui novamente, sinto que não sou a mesma, isso me assusta, deveria me sufocar, mas apenas gela minhas mãos e acelera meu coração. Ainda preciso fechar as janelas, mas quem sabe, só dessa vez eu as deixe abertas e quem sabe, por sorte, talvez, a casa não pegue fogo e eu não me sinta tão distante da realidade, conseguindo viver como algo além de uma espectadora das minhas próprias ações.
(Alucinação ri de forma estridente, mas sua expressão não é feliz)
Alucinação: - A verdadeira loucura é achar mesmo que isso é possível, principalmente quando se está cada vez mais imersa em si própria, a única coisa que consigo ver é uma grande placa branca com as palavras " sem saída" talhadas com sangue e uma pergunta incessante, para onde fugir quando o inferno está em sua mente?
(Cena 3)
Ana já estava em seu quarto, olhando para um recipiente de remédios.
Alucinação: - Sabe o que fazer, vamos lá, sabe que gosta disso. (Alucinação está atrás de Ana olhando de cima.)
Ana: Eu disse que iria tentar melhorar, não posso...
Alucinação: Nós tomamos essas porcarias todos os dias, quando isso te fez bem? O quanto você melhorou?
Ana: - Eu melhorei, fiquei mais calme e...
(Alucinação interrompe) - Se você realmente está bem, o que eu faço aqui? e porque está falando sozinha. Ah Ana, você está entre o céu e o inferno, porque não escolher o que você realmente é?
Ana: Eu não me importo, eu quero melhorar.
(Memoria entra em cena) - Deixe essas ilusões irem embora.
Alucinação: - É disso que você precisa.
Memoria: - Você se sentirá completa até o fim da noite.
Ana: - Por favor, vão embora, eu não quero pensar! (Tapa os ouvidos)
Memoria: - Então lembre. Tudo isso é culpa sua Ana, você deixou a casa pegar fogo, você gostou disso.
Ana: (grita a frase) - Eu não queria isso, está mentindo!
Alucinação: - Vamos Ana, pare de lutar. Aceite o que você é.
Memoria: - Sabe o quer, então pegue, junte-se a nós. Nós somos seu Atlantis.
(Ana tira as mãos dos ouvidos ficando menos resistente.)
Alucinação: - Sabe que estamos certas, permita que eu te mostre o que você está perdendo, pela primeira vez respirar de verdade.
Memoria: - Se sentirá mais alta que o teto, nunca vai desejar que esse sentimento passe.
Ana: - O que eu preciso fazer?
Alucinação: Esse é seu novo começo.
(Alucinação e Memoria dizem ao mesmo tempo) - Apenas se entregue aos seus demônios de novo.
( Ana olha para a caixa de remédios com hesitação, em seguida olha para Alucinação e Memoria que sorriam para ela com as mãos estendidas)
Ana: - O que eu tenho a perder?
Memoria: Apenas deixe isso passar.
Alucinação: - Venha se sentir corajosa, você quer isso, teremos tudo antes do fim da noite pelo preço de um prazer perverso.
Ana: - Eu... (Joga os remédios no chão) aceito. (Segura as mãos de Memória e alucinação.)
(Memória e Alucinação dizem ao mesmo tempo) - Assim seja. (Ambas abraçam Ana tapando seus olhos e boca enquanto a puxam para trás, Ana ainda tenta lutar, mas não consegue, é tarde demais.)
(Todos saem de cena)
(Cena Final)
(Ana abria várias janelas compulsivamente, sussurrava coisas inaudíveis sempre acompanhada de Alucinação e Memória. Logo ela chaga ao fogão e gira o botão do gás liberando-o. As feições de Ana pareciam apáticas, sombrias, os dedos dela tremiam e suas pernas se inquietavam sem parar. Ana havia perdido a única coisa que restava dentro dela, não existia mais um ela, dentro de sua mente uma bagunça, dentro de seu coração um vazio, mas ela finalmente conseguia respirar e nunca desejou tanto não conseguir.)
Ana: - Eu quero que acabe, tudo.
Alucinação: - Pegue o fosforo, tudo vai acabar do mesmo jeito que começou. Com fogo.
(Ana tira de seu bolso uma pequena caixa de fósforos, está prestes a abri-la quando sua mãe entra em cena)
Mãe: - Ana, o que pensa que está fazendo? Largue isso agora! (Disse alterada)
Ana: - Não há outro jeito, eu sinto muito. (Ana tira o fósforo da caixa prestes a acende-lô, sua mãe corre até ela a impedindo, fazendo ambas caírem no chão.)
Mãe: (gritando) Não vai fazer isso! Não vai acabar assim. (A senhora estava em cima de Ana segurando seus braços.
Ana: - Eu preciso sair!
Mãe: - Você precisa acordar!
(Nesse momento, Ana consegue sair debaixo de sua mãe, que tenta impedi-la, mas já é tarde, Ana acende o fósforo.)
(Rebobinar)
(Ana tira de seu bolso uma pequena caixa de fósforos, está prestes a abri-la quando sua mãe entra em cena)
Mãe: - Ana o que pensa está fazendo? Largue isso agora! (Disse alterada)
(Ana olha para o fosforo e o joga no chão assustada.)
Ana: - Uma alucinação... (sussurra) eu não, eu... (Ana corre para fora da casa seguida por alucinação e Memória)
Alucinação: - Porque fez isso? Estávamos tão perto.
Ana: ( diz gritando) - Saia da minha cabeça!
Memoria: Não pode nos mandar embora, somos parte de você Ana.
Ana: - Eu não ligo! Saiam, saiam, saiam! (diz socando a cabeça)
Alucinação: - Você estava indo tão bem, vamos, volte para onde estava, eu assumo o controle a partir de agora.
Ana: - NÃO! Vocês já não fizeram o suficiente? Eu passei um ano presa naquele lugar, acabei de quase matar a minha mãe, eu achei que tinha feito isso, me deixem em paz! (Os gritos e súplicas de Ana eram perturbadores até para ela mesma que agora tapava os ouvidos.)
Memoria: - Não pode nos mandar embora Ana, não vamos embora, somos o que você faz de nós, sua fraqueza é a nossa força.
Ana: Não era para ser assim, eu quero voltar o que eu sou!
(A mãe de Ana entra em cena novamente, mas não corre até a filha, mas apenas observa.)
Ana: Eu quero que minhas memórias sejam meu refúgio, não uma prisão, quero lembrar de antes do sanatório, antes da casa, antes das janelas e fogo, por favor, eu não sei como fugir, você diz ser parte de mim, então me salve, me salve dessa aflição!
Mãe: - Você é a única que pode se salvar Ana.
(A garota se assusta ao ouvir sua mãe, até tenta se afastar quando ela se aproxima, mas não consegue.)
Mãe: - Você é a dona das suas memórias querida, elas são a sua história, não pode fugir delas, precisa superá-las, aprender com cada experiência.
Memoria: - Ela está certa, faça de mim a sua verdade, por favor Ana, me deixe partir.
Ana: Eu não fechei as janelas, não consegui ligar para os bombeiros, a casa pegou fogo por minha culpa...
Mãe: E...?
Ana: - Já faz um ano, eu não posso mudar nada, eu sinto muito, eu não posso fazer nada, eu nasci doente, eu sou assim. Não é minha culpa. (Ana chorava a cada vírgula, mas mantinha a voz firme.
Mãe: " Abriu-se uma tábua em minha mente e eu fui cair de chão em chão." Emily Dickson. Estou tão orgulhosa de você.
Alucinação: Sabe que não é verdade, sabe nunca vai superar isso.
Ana: - Talvez não tão cedo, mas eu vou aprender como, assim como vou aprender a lidar com você.
Alucinação: - Não pode me controlar Anabeth, sabe disso.
Ana: - Eu sei, mas posso aprender a conviver, você é parte de mim, está na hora de aceitar isso, como vocês disseram, eu vou deixar ir.
(Os olhos de Ana se fecham enquanto Alucinação some, já memória, sorri para a garota antes de sair. Sua mãe a abraça também sorrindo)
Ana: - Ainda é um novo começo. (Pela primeira vez, Ana respira fundo)
Mãe: É uma pena que tenha sido tarde demais. (Diz saindo de cena e deixando Ana sozinha segurando a caixa de fósforos. O barulho de sirenes começa a se aproximar e Ana finalmente percebe o que realmente aconteceu, olhando para suas mãos ela percebe que está coberta de sangue e a pele levemente chamuscada.)
Ana: - A vida continua
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